[FILLERS] O Retrato de um Mundo Cruel II

Dom Jun 02, 2024 6:33 pm

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O correr do vento pelas frestas de pedra talhada se assemelha às vozes lamuriantes dos espíritos a muito esquecidos. A estrutura de pedras que se assemelha a uma montanha com diversas reentrâncias entalhadas traz um ar de grandiosidade e imponência particulares.

Em uma das menores entradas escavadas diretamente sob uma das faces da montanha se encontrava uma espécie de quarto, esculpida da própria rocha uma plataforma de pedra era forrada de peles de animais muito abatidos e já curtidas e desgastadas pelo tempo. Sob essa estrutura que se assemelhava a uma cama se sentava um ser de quase dois metros, pele azul quase desprovida de pelos, seu corpo musculoso chamava a atenção, mas o detalhe mais flagrante em sua aparência era seu braço esquerdo que parecia imobilizado sob uma fina camada de gelo que, diante da luz azulada que entrava pela fresta da caverna, parecia brilhar como uma safira.

Este era Shimo que tinha sido derrotado a dias por um de seus irmãos mais velhos no coliseu, esse que quebrou seu braço esquerdo, por sorte os magos do povo Hyoki conheciam as antigas artes de cura através do gelo e garantiram que o braço do jovem ogro se recuperaria em algumas semanas.

A figura titânica azulada se ergue de sua cama, quase batendo a cabeça na caverna em que estava, ao lado de sua cama pega o porrete de aço negro que lhe pertencia com a mão direita e o apoia sob seu ombro enquanto se aproxima da saida. Do lado de fora a luz azul predomina sobre o tom avermelhado, no céu das cinco luas quatro eram azuis e esse evento astronômico parecia indicar alguma passagem de tempo para Shimo.

O gigante pausa por alguns minutos para encarar esse céu peculiar, pensamentos sobre a diferença entre eles e os demais de seu povo pesam na mente do ogro, mas ele os afasta com uma carranca, começando a descer pela encosta da montanha.

…

Em um vasto campo de rochas irregulares, reencontramos nosso protagonista diante de uma muralha de uma rocha gigantesca, toda a face da mesma se encontrava craquelada, mas seu núcleo permanecia intacto. O som frequente de impactos nos revelam a ação antes mesmo que tenhamos a oportunidade de pôr nossos olhos sobre ela: Shimo acerta golpe após golpe de seu kanabo, agora empunhado pelo braço direito, contra a face da rocha.

Para qualquer um que o já o observasse a algum tempo poderia notar o cansaço e também a frustração do rapaz de pele azulada que repetia o movimento ali a muitas horas, já respirando com dificuldade devido ao cansaço. Infelizmente seus golpes simplesmente pareciam não fazer diferença diante da rocha maciça a sua frente e nenhuma nova rachadura surgia.

-BUHAHAHA ADMIRO SUA DETERMINAÇÃO IRMÃOZINHO! Uma voz grave e desdenhosa surge do alto da rocha. Ao fitar o alto, com dificuldade, é possível distinguir uma silhueta enorme que se lança da pedra. É difícil distinguir qualquer detalhe adicional, mas baseado no tom da voz Shimo já era capaz de imaginar quem era, e sua carranca apenas se agrava.

Logo a figura se joga do alto, pousando no chão com um estrondo que ergue uma leve nuvem de poeira das rochas trituradas pelo peso somado a energia cinética. Conforme a poeira se assenta, se torna visível um ser de quase 4 metros de pele azulada, pelos brancos que surgem por todo o corpo e uma aparência extremamente feroz. -Escutei que você apanhou novamente do Miburui, como irmão mais velho não posso admitir isso, já disse que desde que você se ajoelhe para mim vou te proteger daqueles outros dois idiotas. O silêncio paira por um longo tempo, até que uma voz muito menos grave, mas firme, soa partindo de Shimo. -Nunca vou me ajoelhar pra você Kotta!

Mesmo sob os pelos brancos ainda é perceptível a expressão de desgosto e zombaria que se torna mais proeminente no rosto do mais velho enquanto ele passa ao lado de Shimo. -Vamos ver quanto tempo mais você vai durar então… Irmãozinho.

No fim resta apenas Shimo diante da enorme face de pedra e em silêncio ele volta a realizar seu treinamento.