Treinamento — Rin

Kaito havia sido uma pessoa extremamente valiosa em minha vida. Não apenas por dar-me um motivo quando pequena e um treinamento adequado, mas por ensinar-me tudo que sabia. Havia orientado-me a começar a viajar o quanto antes: que eu devia aproveitar a juventude, encontrar algo que eu realmente gostasse. Óbvio, odiei de imediato, mas dia-a-dia, contava-me cada vez mais coisas sobre o mundo e o quanto poderia fortalecer-me.

Que, continuar naquele dojo, era como jogar um diamante fora. Típico dele, claro. No entanto, admitia que aos poucos, começava a não achar de todo ruim. Esse passeio, inclusive, havia sido ideia dele. E, em conjunto à um mapa, dera-me dez mil zeni para que pudesse comprar alguma coisa. Com os olhos focados no mapa, tentava distinguir o melhor caminho a seguir; evidentemente, havia uma boa quantidade destes. O mais comum e usado nada mais era do que seguir pela estrada.

Mas observando com um pouco de atenção, havia uma forma de cortar caminho. Isso me jogaria diretamente no centro da cidade. Tomada pela ansiedade, fui em direção à um pequeno morro e, joguei-me apenas para que tivesse impulso e voasse em direção ao ponto em que deveria chegar. Seria mais rápido dessa forma.

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Enfim, após breves momentos, chegara até a cidade. Estava diferente do que lembrava-me. Embora os prédios continuassem tão longos quanto se pode observar, nada era tão assustador, ou perigoso. A sensação que tive fora de espanto, surpresa e uma série de outros sentimentos que continuavam a martelar minha cabeça - isto é, de maneira figurativa, é claro.

Oque quero dizer é que, era extremamente emocionante retornar aquela cidade, mas não como uma pequena ladra e, sim, como uma artista marcial. Entendia uma por uma as palavras de Kaito quanto a não mais me segurar por conta dos meus medos e passado. Tudo que vivi quando garota não importava mais, uma vez que carregava comigo o peso de tudo que havia vivido depois daquilo.

Sem mais delongas, era hora de ir às compras. Observei tudo ao redor, apenas para ser surpreendida por roupas bélissimas, como casacos de couro escuro, botas, camisas e todas as outras peças de roupa que sempre sonhei durante a infancia. Não podia compra-las, não com apenas o dinheiro que havia ganhado, mas certamente entrava em uma das minhas inumeras listas de bens que desejava conseguir, cedo ou tarde.

Ao adentrar em uma das lojas, não fui seguida pelos atendentes. Eles não pareciam estar incomodados com a minha presença e, quando vieram até mim, na verdade, foram extremamente cordiais e respeitosos. Quanta mudança.

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Durante o almoço, fui até um pequeno bar. Conhecia o dono e gerente, ao menos de vista. E, esperava que também se lembrasse da garota suja que, vez ou outra, era ajudada por sua benevolência. Muito se é dito diariamente por outras pessoas, por outras bocas que, devemos sempre ajudar os necessitados, mas poucos são aqueles que vão além de simples palavras. O homem barbudo e barrigudo que trabalhava ali, embora mal-encarado, certamente era uma destas. Sentei-me frente ao balcão. O cheiro era de incontáveis especiarias. Não pude comer todas aquelas coisas durante meu treinamento, uma vez que Kaito era responsável pela comida. Geralmente, os meus pratos baseavam-se no que era mais nutritivo, mas não o mais gostoso.

Quando o mesmo homem de outrora atendeu-me, pude ver que havia me reconhecido, pois seus olhos encheram-se de lágrimas. Conversei mais algum tempo, antes de pedir algo para comer. Quando fui pagar, ele não aceitou o dinheiro e pediu para que o visitasse outras vezes. Parecia feliz com a minha nova realidade e, sinceramente, eu também estava mais do que feliz.

Não pretendia continuar na cidade por mais tempo, mas antes de ir embora, certamente havia um certo lugar que deveria ir, indiferente do quanto demorasse para encontra-lo. A pequena viela, onde havia conseguido montar uma tenda, acima de um aquecedor, no que parecia ser uma toca.

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Demorei menos do que imaginava para encontrar o tal lugar e, para a minha surpresa, anos após a minha partida, ainda havia vestígios do que parecia ter sido a minha casa. Ninguém, nenhuma outra criança, tomara para si aquele esconderijo e, na verdade, isso me trazia certa felicidade. Não desejava aquela infância para ninguém, nem mesmo para os meus piores inimigos. Viver na incerteza de um futuro, na incerteza do amanhã era certamente um dos piores cenários possíveis e, por muitas vezes, quase tomei decisões horríveis por impulso ou fome.

Enfim, era hora de ir embora. Comecei a andar em direção à mesma estrada de outrora. O sol que antes brilhava graciosamente, agora despedia-se no horizonte. A noite naquele lugar não era tão escura, uma vez que o céu era resplandecido por inumeras estrelas. Meu mentor, Kaito, muitas vezes dissera-me que poderia ser uma delas, quando crescesse. Será que realmente poderei ser? Alguém que poderá iluminar outras pessoas?

Acabei por voar em direção ao dojo e, dormi mais uma vez lá, ao invés de partir. Estava adiando o inevitável, claro, mas mais fácil falar do que fazer, como sempre. E, sinceramente, mal sabia oque fazer a partir do instante em que estivesse fora dali.

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Estava sentada sob os pés, com as mãos acima da coxa, ouvindo atentamente aquela descrição. Kaito, no dia anterior, havia instruído-me a descansar. O motivo daquela ordem tão... diferente - muito por partir daquele tipo de homem que ele era? Ensinar-me sobre o Ki. Admito que, naquele instante, imaginei os piores tipos de treinamento: talvez, ter que chegar ao limite para despertar tamanho poder e, inclusive, mal havia conseguido dormir durante a noite passada. Fora uma surpresa quando o mesmo, assim que cruzei a porta com a espada já em punhos, pediu-me para que me sentasse no chão, a frente dele.

— O...que? Não vamos treinar? — Perguntei, um tanto quanto curiosa e, claro, totalmente sem entender oque estava acontecendo. Ele olhou-me no fundo dos olhos e, com seriedade, começara a explicação que tanto precisava.

" Sim, nós iremos. Mas, não se treina o controle de Ki da forma como está acostumada. Aprender a manejar uma espada é algo que qualquer um pode fazer. Existem, claros, diferenças de alguém, verdadeiramente talentosa " — Enquanto dizia a última frase, olhara diretamente para a minha espada e, em seguida, à mim. " E pessoas que, em determinado momento, não conseguirão mais progredir. Uma limitação natural " — Continuara.

Ele havia me dito isso outras vezes, ao menos, uma dezena delas. E sempre usava as mesmas palavras para tal. Talvez fosse um jeito de me dizer o quão talentosa era, ou senão, que haveria um limite para oque se consegue atingir, mesmo sendo tão esforçada. Sinceramente, não sabia distinguir plenamente suas palavras.

" O chi não. Ele não é algo que você pode simplesmente aprender de forma leviana. Você deve senti-lo " — Ele tocara em seu peito. " Entende-lo " — Continuava.

" Com o tempo e treinamento adequado, você também conseguira sentir essa energia. Veja minha mão " — Ele ergueu e, dessa vez, pude perceber algo ser gerado a partir da mesma, oque parecia ser uma chama, não quente, azul fez-se presente. " O Chi é uma energia vital, que está presente em todos os seres vivos. Mesmo outros seres, de planetas distantes, também podem usa-lo e embora seja mais uma arma de guerra, também pode ser usado para salvar vidas, proteger pessoas "

" Naikei. O Chi interno. É a energia que alimenta nossos órgãos, músculos e células. A saúde física e mental depende do equilíbrio e da abundância do Ki interno. Gaikei. O Chi externo. Este é o Ki que se manifesta fora do corpo. Pode ser usado para influenciar o ambiente externo, como em técnicas de cura ou em ataques de artes marciais. Oque você precisa aprender é controlar o segundo tipo de Ki. " — Ele respirou profundamente, levantou-se em foi em minha direção.

" Sente-se corretamente. Mantenha seu corpo ereto e feche os olhos. A mostrarei de outra forma. Forçarei-a a sentir em seu próprio corpo. " — Enfim, Kaito decidira iniciar aquele treinamento, depois de tantas palavras. Após cumprir os requisitos, senti sua mão sob minhas costas e, então, uma energia. Forcei os olhos a se manterem fechados e, enquanto respirava pausadamente, ouvi novas ordens seguirem.

" Respire fundo, inalando pelo nariz e exalando pela boca. Deixe o ar entrar profundamente em seus pulmões e depois solte-o lentamente. A cada inspiração, sinta o ar purificando seu corpo. A cada expiração, imagine todas as suas preocupações e tensões saindo junto com o ar. Concentre-se apenas na sua respiração, deixando todos os outros pensamentos de lado. " — Em algum momento, senti uma estabilidade pulmonar nunca antes sentida. Aquilo era mais do que apenas um tipo de respiração específica. Enquanto sentia sua energia, começava a diferencia-la de um simples vento que, hora ou outra, batia em meu cabelo.

Na verdade, manter-me naquele estado tão profundo, fizera com que minha mente rapidamente fosse esvaziada. Sentia cada parte de meus músculos, o coração bater e uma paz genuína.

" Agora, com a mente estabilizada, sinta tudo ao seu redor. O chão abaixo de você, a brisa leve que sopra em seu corpo, minha mão e o Ki que exalo em seu corpo. Agora, imagine uma luz suave e quente em seu abdômen, o centro do seu corpo. Essa luz é o seu Ki, a sua energia vital. " — Seguindo suas palavras, não posso deixar de notar que, começo a sentir essa energia citada, a partir do abdómen. É quase irracional, mas é como se pudesse usa-la desde meu nascimento. Aquilo é simplesmente incrível.

" Concentre-se nessa luz. Sinta-a pulsar e se mover dentro de você. Quanto mais você se concentra, mais forte e clara essa luz se torna. Permita-se sentir a energia fluir por todo o seu corpo, desde a ponta dos dedos dos pés até o topo da cabeça. " — É como se toda a minha energia estivesse sendo renovada. Na verdade, até mesmo a voz de Kaito começa a se tornar mais longincua, como se naquele pequeno espaço, só existisse eu. Ao meu redor, uma energia começava a transbordar. " Agora, tente guiar essa energia. Imagine que você está movendo a luz dentro de você. Comece com pequenas áreas, como suas mãos ou pés. Sinta o Ki se concentrar nessas partes do seu corpo. Pratique mover essa energia para diferentes partes, até que se torne natural e fácil. "

A conexão com a minha própria energia era tamanha que, oque parecia ser pouquíssimos segundos passaram-se e rapidamente senti que poderia controla-la plenamente. Continuei, usando-a e percorrendo por cada parte de meu ser. A voz outrora recorrente de Kaito fora calada e, algum tempo após perceber, levantei-me abrindo os olhos e procurando-o. — K...kaito? Onde está você — Apenas para vê-lo a alguns metros de mim, olhando-me boquiaberto.

— O... oque foi? — Perguntei. " Não é nada. É só que... aprendeu rápido de mais. " — Ele respondera.

— Qual é a próxima parte do treinamento?
" Eu... eu não sei... " — Ele gargalhou. " Pensei que demoraria ao menos um ano, até que pudesse sentir o Ki. Estava totalmente enganado " — Gargalhou. " Oque acha de tentar voar? Basta sentir e espalhar o Ki por todo o corpo e, então, quebrar a gravidade ao seu redor. Seu corpo se tornará leve e, você poderá controla-lo em qualquer superfície.

— Eu.. eu posso tentar! — Respondi. O restante do dia fora treinando e desenvolvido todas as capacidades básicas com aquela nova energia aprendida.

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