Aventura — A Vida Pelo Fio da Espada

Dom Jun 02, 2024 9:07 pm

A Vida Pelo Fio da Espada

Jecheondaeseong é uma região bastante bela, mas também desafiadora, apenas aqueles que encarnam as maiores qualidades da humanidade, seja em sua coragem ou ambição, se provaram capazes de viajar pelas suas planícies e terras acidentadas dessa famosa região. No momento, um belo pôr do sol se estendia no horizonte trazendo consigo um vento gélido que varria a terra quase desnuda, a queda de temperatura era comum para essa época do ano durante o período noturno.

No horizonte uma figura esguia avançava de forma perseverante. Seus dias de viagem já tinham lhe provado que ela precisava encontrar abrigo se esperava ter uma noite de descanso confortável nesse clima frígido, para sua sorte era visível ao longe um assentamento em meio às planícies.

Ao se aproximar encontraria a maioria das luzes dos casebres de madeira desligados, mas um dos prédios próximos a cerca improvisada permanecia com as luzes do fogo de uma chaminé escapando por sua janela. Lá dentro era possível ver sombras dançando que indicavam uma movimentação ativa e sons de uma música e cantoria alcançam os ouvidos de qualquer observador.

O assentamento não passava de dez estruturas de tábuas de madeira, a maioria casebres e um silo onde o cata-vento girava devido ao sopro frio que varria a paisagem. Para além do vilarejo, apenas campos vastos de vegetação esparsa se perdiam em sombras noturnas no horizonte.

Seg Jun 03, 2024 10:21 am

Aventura — A Vida Pelo Fio da Espada T2QyUiA

Parte 01 — A Vida pelo fio da Espada

Sentia-me cansada. Havia viajado há horas, sem sequer imaginar o quanto demoraria até alcançar a cidade - ou, nesse caso, ao menos vida e, quando do horizonte surgira um numero inferior à uma dezena de casebres, ainda estava feliz. Simplesmente por ter a possibilidade de ver novamente um ser vivo. Abri um sorriso e, imediatamente, aumentei os passos. Só no meio do caminho percebi: estaria sendo extremamente invasiva? Provavelmente.

Então, decidi adotar uma postura diferente.

Quando próxima, me abaixei e tentei ser o mais discreta possível. Queria ver quem estava na casa principal, iluminada. O objetivo era simples, observar antes de agir. Esperava que fossem pessoas comuns, provavelmente em meio à algum tipo de festividade. A felicidade do momento poderia até ajudar-me a conseguir alguma ajuda, um lugar para dormir naquela noite, antes de ter de voltar a caminhar. Não voava por conta de ainda não estar totalmente familiarizado com aquele poder, mas cedo ou tarde, deveria retornar o treinamento. Não aprenderia nada ficando amarrada no chão.

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Seg Jun 03, 2024 4:53 pm

A Vida Pelo Fio da Espada

Alcançar o vilarejo é um alento para a viajante cansada que, enfim, tem a perspectiva de ter um descanso digno, mas o perfil taciturno de nossa protagonista a impele a uma abordagem cautelosa. Dado suas habilidades e a ausência de qualquer guarda, se faz uma tarefa simples alcançar a janela do casebre iluminado sem ser percebida.

De canto é possível notar muitas figuras no local, o vidro velho e encardido lhe proporciona uma visão pouco clara, mas é possível distinguir um pequeno palco onde um homem atarracado parece tocar algum instrumento de corda, dado a música de fundo que alcança seus sentidos. Muitas mesas eram ocupadas por pessoas que pareciam comer e beber absortas em seus próprios pensamentos, é inclusive essa visão, combinada com o cheiro tentador de temperos e especiarias que lhe lembram que já passara algum tempo desde sua última refeição.

O que mais lhe chama a atenção, ainda sim, é no centro do local, onde uma mesa parece receber os holofotes, nela uma figura se ergue, um pé sob uma cadeira e outro sobre a mesa, assumindo uma pose heroica enquanto parece segurar um florete em suas mãos. De fora é difícil entender o que é dito, mas é possível escutar fragmentos desconexos que lhe lembram uma contação de histórias como aquelas feitas por artistas itinerantes.

Próxima da porta era possível identificar uma placa desgastada que, agora de perto, se tornava legível: Estalagem do Manco.

Seg Jun 03, 2024 7:41 pm

Parte 02 — A Vida pelo fio da Espada

Meus olhos passearam por cada figura presente e, embora tivesse certa dificuldade por conta da poeira impregnada na janela, era mais que o suficiente para entender oque acontecia por ali. Deveria entrar e, tentar fazer algum tipo de amizade com os locais? Ou seria escurraçada, como quando era criança? Sentia um pouco de ansiedade, misturada com algum temor. Havia crescido, claro, mas as lembranças não sumiram.

Respirei fundo, inalando pelo nariz e assoprando pela boca e, então, toquei na maçaneta, apenas para que meus olhos fossem de encontro à placa. Aquilo era uma estalagem. Não dera tempo de raciocinar nada, uma vez que já havia girado-a e, agora, estava frente a uma dezena de mesas, pessoas alimentando-se e bebendo. Forcei o meu melhor sorriso, tentando passar despercebida de olhares confusos - embora soubesse com certeza que não conseguiria.

Meus olhos correram mais uma vez as pessoas e, focou-se numa espada, nas mãos de um homem que permanecia em uma pose heróica. Era diferente de minha Katana - parecia ter o fio cego, mas altamente perfurante. Imaginava que aquela espada era designada para outro tipo de técnica.

No fim, apenas tentei sentar-me próximo a música e do balcão, puxando algumas notas. Kaito havia dado-me aquele dinheiro para que pudesse comer, enquanto estivesse viajando. Além disso, imaginava que poderia conseguir um quarto naquela estalagem. — Boa noite — Cumprimentei quem quer que aparecesse do outro lado do balcão.

— Oque há para comer? — Perguntei. E então, meus olhos viraram-se para a trupe de cantores e, claro, o 'herói'. — Que legal. Quem são eles? — Fui direta.

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Qui Jun 06, 2024 9:42 pm

A Vida Pelo Fio da Espada

Você gira a maçaneta permitindo que o mecanismo metálico reaja com um clique abafado liberando a sua passagem estalagem a dentro. O ar acre e quente lhe atinge e você percebe um fogão a lenha em um dos cantos do local que você não podia ver da janela.

Ao contrário de suas expectativas, a maioria das pessoas ali, todas claramente de origem humilde e variando em diversos períodos da vida e gênero, mal lhe dão atenção, escapando até o balcão com não mais que dois ou três olhares curiosos. Um deles, o mais flagrante, vem do homem que narrava histórias aventurescas para alguns ávidos ouvintes.

Agora, sem a película de vidro e sujeira interpondo sua visão, você percebe a figura magra, os bigodes longos e espichados, a barba rala, roupas de couro batido e o florete em mãos, era bem menos heroico do que se fazia parecer.

“Meu fiel companheiro Rufoz, o anão, nesse momento se escondia num cocho de cavalo para escapar das chamas do dragão enquanto eu escalava o silo da vila, as chamas em meu encalço…”. Após a curta pausa a narrativa retorna de forma alheia a sua presença.

Ao se sentar no balcão, e principalmente ao puxar algumas notas, você percebe o provável dono da estalagem se aproximar. Era um homem gordo, mas também forte, uma grande barba grisalha mal feita e cabelos brancos amarrados em um rabo de cavalo, como esperado, mancava até estar a sua frente. -Tenho uma sopa de feijão vermelho no fogo, possa te arranjar um pedaço de carne de porco assada na brasa se tiver o dinheiro pra isso. Responde a sua pergunta de forma direta. -Oh, o artista ali é Zaz, Três-Quatro. O homem na mesa é algum fanfarrão qualquer que apareceu ontem por essas bandas, como era o nome mesmo? Ciriano? Cyrano eu acho. Resmunga pensativo.

Sex Jun 07, 2024 7:59 am

Parte 03 — A Vida pelo fio da Espada

Feijão vermelho, é? Mais que o suficiente.

Olhei-o enquanto o mesmo respondia, sempre com um sorriso no rosto. O homem parecia cansado, a primeira vista. Não poderia culpar - manter um lugar como aquele parecia ser bem difícil, ainda mais com visitas inesperadas, como a do artista, do 'fanfarrão' e a minha, claro. — Certo. Vou querer um pouco do que meu dinheiro conseguir pagar, por favor — Colocando sobre a mesa, uma quantia considerável. Algo em torno de mil a três mil zenis.

Deveria guardar algo, afinal, não sabia o que o destino me reservava dali para frente. Zaz continuava sua história, alegremente, enquanto o outro, Cyrano - ou seja lá qual o nome do mesmo, em seu próprio espaço pessoal. O restante da 'plateia', pessoas igualmente cansadas, provavelmente da vida no campo, permaneciam silenciosas. No fim, apenas me permiti ficar um pouco mais alheia e de guarda baixa, ouvindo as histórias fantásticas do artista.

— Sua estalagem tem um quarto vago, senhor? Eu precisava de um lugar para dormir, hoje — Perguntei, sendo direta ao ponto, assim que o mesmo viesse com a comida.

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Sáb Jun 08, 2024 12:54 pm

A Vida Pelo Fio da Espada

O estalajadeiro acena de forma positiva ao seu pedido de comida, e já começa a se afastar quando você põe o dinheiro sobre a mesa, mas então, por um momento, o homem de cabelos grisalhos congela ao encarar a soma de dinheiro sob o balcão, antes de acenar de forma positiva e se afastar.

Rin relaxa sob a cadeira de madeira em frente ao balcão, deixando o peso de suas costas encontrar apoio na cadeira que arqueia levemente, mas parece aguentar o peso da jovem com tranquilidade. Seus olhos azuis safira então se focam de forma preguiçosa no contador de histórias no centro da estalagem.

Cyrano já parecia agora ter engatado em outra história: “O homem de kimono negrou passou por mim de forma ríspida enquanto batia sua katana contra meu florete, isso é claro, na etiqueta de nós, espadachins, um desafio para um duelo, e eu não deixaria barato! Mesmo que ele fosse discípulo de um dos lendários dojo da ilha do oeste, isso não me intimidava, eu, o grande Cyrano…”. As histórias pareciam uma coletânea, pouco confiável, de experiências de vida do homem que incluíam ele chegar em lugares maravilhosos, conquistar todas as mais belas mulheres, derrotar bestas terríveis e homens arrogantes.

Logo o cheiro peculiar, doce e picante, de comida, invade suas narinas lhe alertando pra aproximação do estalajadeiro em seu ritmo quebrado devido a sua deficiência na perna. -Aqui está mocinha. Fala ao lhe servir uma bandeja com uma tigela cheia de uma sopa marrom-avermelhada com diversos legumes coloridos boiando e um pedaço grande e apetitoso de carne de porco bem dourada em um prato.

O homem estende as mãos em direção ao dinheiro enquanto escuta seu pedido de um local para dormir. -Temos sim, coma a sua refeição que eu lhe indico o quarto. Fala num tom bastante alto, antes de abaixar levemente a sua cabeça e complementar. -Você não deveria mostrar tanto dinheiro por aí mocinha. Complementa, pegando pouco mais de um terço do valor que você pós na mesa.

Se retirasse seu olhar, novamente, para o salão, perceberia que muitos dos seus frequentadores lhe olhavam pelo canto dos olhos antes de voltar a se concentrar em suas tigelas, claramente menores, de sopa.

Sáb Jun 08, 2024 1:20 pm

Parte 04 — A Vida pelo fio da Espada

Permaneci indiferente sobre a maior parte dos assuntos ao meu redor, dando maior atenção as histórias. Era claramente, em grande parte, mentira. Mal conseguia imagina-lo como um guerreiro, muito menos como alguém capaz de rivalizar com todas as criaturas e inimigos que relatava a cada segundo. Não pude conter um leve sorriso e gargalhar que soltei em um momento da história sobre os espadachins.

Assim que me virei para olha-lo e pergunta-lo sobre o quarto, o mesmo avisaria-me sobre a quantia. O fato de nunca ter saído para tão longe de casa, acabou tornando-me um tanto quanto alheia aos preços das coisas. Não imaginava que estaria causando tudo aquilo e, rapidamente, recolhi o 'troco', guardando-o em minha mochila. Meus olhos focaram os de alguns ao meu redor e que apenas agora, pareciam ter minha atenção.

Não sabia o quão ruim era aquilo, mas pela minha segurança e a deles, decidi não mais fazer nada chamativo até o fim da noite. Comi, aproveitando a primeira refeição quente em dias e, finalmente, esperava apenas o dono do lugar para que pudesse levar-me até o meu devido aposento.

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Sáb Jun 08, 2024 2:17 pm

A Vida Pelo Fio da Espada

Ao perceber que você tinha acabado de comer o estalajadeiro apenas termina de servir a bebida de um senhor sentado no canto do bar antes de voltar a atenção para ti e se aproximar com meu manquejar característico. -Bom, vamos lá? Questiona o homem.

Perante sua aceitação ele iria se dirigir para o fundo do salão onde se encontrava uma outra porta simples, o ranger das dobradiças anuncia a abertura dela revelando um corredor iluminado por lamparinas e ladeado por diversas portas.

Após você passar o estalajadeiro lhe guiaria até perto do final do corredor, abrindo uma das portas pra ti e lhe entregando uma pequena chave dourada com uma etiqueta gasta marcada com o número 8. -Você pode dormir aqui hoje mocinha, meu nome é Brandon. Temos café da manhã logo após o sol nascer. Se apresenta e explica ao homem, lhe deixando ali sozinha com a chave.

O quarto era pequeno, tal como os que você encontraria em São Paulo, mas confortável, com uma mesinha com um suporte e uma vela, uma cama de madeira e um banheiro pequeno, mas bem equipado.

Sáb Jun 08, 2024 3:56 pm

Parte 05 — A Vida pelo fio da Espada

Seguiria-o a poucos metros atrás do senhor que me guiava em direção ao quarto e, fato é, esperava exatamente oque havia encontrado. Era pequeno, agradável e suficientemente bom para uma ótima noite de sono. Meu corpo pesava pelo tempo que andei sozinha, no deserto e planícies e, agora, finalmente poderia descansar corretamente.

— Sou Rin, senhor! Certo, muito obrigada! — Agradeci, enquanto tinha mãos a chave com o número e, segundos após o mesmo seguir seu próprio rumo, faria questão de trancar a porta, girando a chave duas vezes. Havia sido um dia cansativo, então, era hora de ao menos tentar relaxar um pouco antes de iniciar o outro dia.

Mas algo que ainda corria em minha mente era, oque faria dali para frente. Kaito havia sugestionado uma série de coisas, como participar do torneio - embora ainda não tivesse qualquer tipo de desejo em ser mais um dos shows para aquele público. Outra sugestão nada mais era do que encontrar algum outro dojo, para que pudesse desenvolver ainda mais as minhas capacidades.

Essa ideia, de fato, me parecia ser a longo prazo, muito interessante. Enquanto pensava, deitei-me na cama, jogando a bolsa que carregava até o breve momento, ao lado da mesma. Com um longo suspiro, os pensamentos permaneceram voando. Embora gostasse da ideia, não tinha sequer ideia de onde poderia seguir ou como poderia ser escolhida para um desses dojos. Bastava apenas ir até lá e falar que queria treinar?

Óbvio que não, seria fácil de mais. Em algum momento, com o silêncio da noite se aproximando, tentaria dormir.

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